Impulso das stablecoins: como a dominância do dólar pode impulsionar o Bitcoin

O crescimento das stablecoins não é apenas um fenômeno técnico do universo cripto — é uma tendência geoeconômica que pode redesenhar o papel do dólar e impulsionar o Bitcoin como ativo global.

Esses ativos digitais, ancorados principalmente na moeda norte-americana, estão consolidando um novo modelo de infraestrutura financeira transnacional, com efeitos que se estendem do varejo digital às reservas institucionais.

O que parecia ser uma ponte entre moedas fiduciárias e o blockchain começa agora a assumir papel estrutural na reorganização da economia digital. E nesse contexto, o Bitcoin se apresenta como contraponto escasso e descentralizado, beneficiando-se indiretamente da popularização das stablecoins.

O que são stablecoins? Entenda seu papel na economia digital

Stablecoins são criptomoedas projetadas para manter paridade com ativos estáveis, geralmente o dólar. Elas representam mais de US$ 130 bilhões em capitalização de mercado e servem como “moeda digital do dia a dia” no ecossistema cripto, sendo utilizadas para pagamentos, remessas, reserva de valor e operações em finanças descentralizadas.

Segundo a ARK Invest, essas moedas digitais são “ferramentas poderosas para exportar a influência financeira dos EUA sem necessidade de imposição formal”.

A tecnologia não apenas viabiliza pagamentos instantâneos, como também amplia a acessibilidade de populações não bancarizadas, o que torna as stablecoins especialmente relevantes em economias emergentes.

Existem três modelos principais:

  • Fiat-colateralizadas: como o USDT e o USDC, que mantêm reservas em moeda fiduciária e dominam o mercado. Você pode conhecer suas diferenças em nosso comparativo entre USDT e USDC.
  • Cripto-colateralizadas: como a DAI, que usa outras criptomoedas como colateral.
  • Algorítmicas: como a antiga UST, que mantinha paridade via algoritmos — modelo que sofreu forte abalo após o colapso da Terra em 2022.

Apesar das falhas em experimentações algorítmicas, o uso de stablecoins fiat vem se consolidando como infraestrutura crítica, especialmente com a possibilidade de usar Tether (USDT) para transações internacionais, que combinam liquidez, estabilidade e velocidade.

A dominância do dólar em versão tokenizada

A adoção massiva de stablecoins colateralizadas em dólar reforça a posição da moeda norte-americana como principal unidade de referência global. Ao contrário de ameaçar o dólar, como se especulava nos primeiros anos das criptomoedas, as stablecoins ampliam seu alcance — agora por vias descentralizadas.

A Hashdex, em relatório de 2024, observa que a regulamentação pró-stablecoins nos EUA é estratégica: “em vez de barrar a inovação, o país busca usá-las como extensão digital de sua política monetária”. Esse movimento, que inclui propostas legislativas com exigência de reservas 100% lastreadas, posiciona o dólar como pivô de liquidação global em blockchain.

O Brasil segue a mesma direção, segundo documento técnico do Banco Central que analisa a funcionalidade jurídica das stablecoins. A autoridade monetária reconhece o papel dos ativos estáveis como instrumentos complementares à soberania monetária, desde que regulados e transparentes.

Benefícios práticos das stablecoins: da eficiência ao acesso global

A funcionalidade das stablecoins vai além da estabilidade. Elas oferecem um conjunto de vantagens que as tornam ideais para contextos em que a infraestrutura bancária tradicional é cara, lenta ou inacessível.

Entre os principais benefícios, destacam-se:

  • Velocidade: remessas que antes levavam dias, hoje acontecem em minutos. Plataformas como o Bity Payments já oferecem envios diretos com stablecoins, sem necessidade de intermediários;
  • Baixo custo: em vez de tarifas bancárias e impostos elevados, como IOF, é possível investir em stablecoins mesmo com o IOF alto, minimizando impactos tributários com planejamento;
  • Acessibilidade universal: basta uma conexão com a internet para utilizar stablecoins, o que as torna perfeitas para países com baixo índice de bancarização;
  • Previsibilidade cambial: ao manter paridade com o dólar, usuários em mercados voláteis conseguem preservar poder de compra.

Esses atributos fazem das stablecoins uma escolha lógica em contextos como remessas internacionais para empresas e pagamentos entre fronteiras, onde o custo de oportunidade da lentidão bancária é alto.

O elo entre stablecoins e Bitcoin: um ciclo de fortalecimento

Enquanto as stablecoins dominam a liquidez diária do mercado cripto, o Bitcoin ocupa a posição de ativo escasso e descentralizado, funcionando como “reserva de valor digital”. A convivência entre ambos não é concorrencial — é simbiótica.

Estudos como o publicado pela ScienceDirect (2024) apontam que o crescimento de stablecoins pode, paradoxalmente, reforçar a relevância do BTC por três caminhos:

  1. Entrada facilitada: usuários entram no mercado via stablecoins, mas migram parte de seus fundos para o Bitcoin em busca de valorização e proteção contra inflação.
  2. Liquidez institucional: emissores de stablecoins, ao diversificarem reservas, alocam parte de seus fundos em BTC, como já especulado em fóruns regulatórios.
  3. Legitimidade de ecossistema: à medida que as stablecoins se tornam legalmente reconhecidas, o Bitcoin também ganha espaço por associação e maturidade do ambiente cripto.

Na prática, quanto maior a liquidez gerada pelas stablecoins, maior a facilidade de compra e circulação do BTC — o que reforça sua adoção. Esse comportamento já pode ser percebido em operações como remessas pessoais com uso de stablecoins, nas quais o BTC entra como reserva após o recebimento do valor.

Regulação: oportunidade de crescimento, não ameaça

A visão tradicional de que “regulação mata inovação” já está ultrapassada. O cenário atual demonstra que regulação clara atrai capital, reduz riscos e legitima o uso de criptoativos, tanto para usuários quanto para instituições.

Nos EUA, como destaca a ARK Invest, projetos de lei sobre stablecoins incluem regras sobre auditoria, segregação de ativos e punições para emissões irresponsáveis — uma abordagem voltada à solidez, não à repressão. No Brasil, o marco regulatório de criptoativos avança com foco em prevenção à lavagem de dinheiro e educação financeira.

A análise da Hashdex sobre impulso regulatório em DeFi reforça que as stablecoins serão o epicentro dessa nova fase regulada. Com elas, o Bitcoin se beneficia indiretamente: o reconhecimento legal das stablecoins normaliza o uso de carteiras digitais, exchanges e wallets que também oferecem BTC.

Impacto prático na adoção institucional

O alinhamento regulatório e tecnológico cria um ambiente fértil para que stablecoins sirvam como gateway para o Bitcoin em empresas, bancos e gestores de patrimônio. Isso já se reflete em ferramentas para mandar e receber dinheiro do exterior com cripto, onde a entrada acontece com stablecoin, mas a exposição é convertida para BTC como hedge cambial.

A adoção da Tether por parte de exportadores e freelancers já é comum em países como Argentina, Nigéria e Turquia. Nessas regiões, o Bitcoin surge como etapa natural seguinte: um ativo que preserva valor no tempo e não depende de reservas fiduciárias — ao contrário das stablecoins.

O futuro das finanças passa pela convivência entre dólar digital e Bitcoin

As stablecoins não são apenas um mecanismo técnico de paridade cambial. Elas representam um novo paradigma de circulação de valor: rápido, barato, interoperável e global. E ao mesmo tempo que consolidam a presença do dólar no blockchain, abrem caminho para que o Bitcoin cumpra seu papel como reserva descentralizada.

Essa simbiose entre moedas estáveis e o BTC indica uma reorganização do sistema monetário digital: um sistema em que usuários comuns, empresas e instituições compartilham da mesma infraestrutura, com diferentes níveis de risco e expectativa.

Se você deseja compreender mais sobre como o IOF impacta essas operações, acesse nossa explicação sobre a atuação do IOF no mercado cripto, especialmente em operações com stablecoins.